[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 24 de julho de 2015

[1035.] BEATRIZ MONTEIRO MAGALHÃES ALMEIDA [I]

[27/10/1881-1956]

Filha de Arminda Monteiro Magalhães e de Miguel Fernandes Magalhães, Beatriz Monteiro Magalhães Almeida nasceu em Cedofeita, Porto, em 27 de Outubro de 1881.

Casou, em 1913, com Francisco Almeida Dias Pinheiro e no ano seguinte, em 2 de Março, nasceu a filha Beatriz Magalhães Almeida Pinheiro, conhecida por Beatriz Cal Brandão por ter casado com Mário Manuel Cal Brandão [1910-1996]. 

Quando nos anos quarenta se tornou a sócia nº 67 da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, com residência na Vila Margarida, Avenida de Gaia, 1001, Vila Nova de Gaia, já tinha um tracjeto politico oposicionista relevante.  

Viúva, com 56 anos, foi presa com a irmã mais velha [Carolina Magalhães Costa] e a única filha [Beatriz Magalhães Almeida Pinheiro] em 18 de Dezembro de 1937, às duas horas da manhã, na sua residência na Rua do Moreira, 283, Porto, por notícias enviadas a um familiar da província sobre a Guerra Civil de Espanha. Julgada a 28 de Junho de 1938 pelo TME, foi condenada na pesada multa de 8.400$00 e libertada no dia seguinte, tal como a irmã, enquanto a filha já tinha saído em liberdade em 31 de Dezembro de 1937. 

Segundo José Viale Moutinho, no livro Primeira Linha de Fogo. Da Guerra Civil de Espanha aos Campos de Extermínio Nazis, Beatriz Magalhães Almeida Pinheiro deixou descrita essa sua experiência prisional no livro inédito No Patamar do 3.º Esq., "dedicado a Jorge Amado e subscrito pelo pseudónimo Tiza Maga" [Capítulo 9 da obra de José Viale Moutinho].

Lúcia Serralheiro, em Mulheres em Grupo Contra a Corrente [Associação Feminina Portuguesa para a Paz (1935-1952), Rio Tinto, Evolua Edições, 2011], refere que testemunhos orais recolhidos por si indicaram que Beatriz Almeida redigia quadras contra a política de Salazar e distribuía-as pelas caixas de correio das ruas do Porto, assim como escrevia postais de correio com endereços fictícios contendo notícias sobre a Guerra Civil de Espanha para que os carteiros, ao interrogarem-se sobre os destinatários, os lessem e comentassem. 

[in Lúcia Serralheiro, Mulheres em Grupo Contra a Corrente, Evolua Edições, 2011]

Segundo a filha, entrevistada por Lúcia Serralheiro, era uma mulher muito culta, autodidata e de fortes convicções, preocupando-se com as camadas mais desfavorecidas. 

Testemunhou, no Tribunal da Boa Hora, em Lisboa, a favor de Guilherme da Costa Carvalho [1921-1973], filho da amiga e correlegionária Herculana de Carvalho [23/12/1900-16/05/1952].

Beatriz Magalhães Almeida publicou, na primeira metade da década de 40, vários livros com o pseudónimo Zita Maga. Esteve representada com cinco obras (A Mãe, A Aninhas, A Rosinha, A capucha serrana e O último modelo) na Exposição de Livros Escritos por Mulheres organizada, em Janeiro de 1947, pelo Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. No Catálogo, refere-se que “tem desenvolvido grande atividade literária de há vinte anos para cá, embora não tenha publicado todos os seus trabalhos”. 

Lúcia Serralheiro inseriu dados biográficos no Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX), editado em 2005 pelos Livros Horizonte, tendo aí referido, citando a filha, que «Viveu sempre ansiosa do conhecimento exacto e sobretudo da génese e da finalidade de um partido comunista que se interessasse sobre o desenvolvimento das camadas mais infelizes, mais desprotegidas da sociedade. Era uma mulher muito inteligente, muito culta, uma autodidacta, que se fez à sua custa, e que educou a filha “sempre no horizonte de liberdade, solidariedade, de abertura e de aceitação ao que os outros pensam, contanto que eles tenham o limite de convicções, mas não de agressão às ideias dos outros”».

João Esteves
[Texto actualizado em 17/08/2017]


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