[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 27 de abril de 2017

[1593.] ALBINA FERNANDES (PATO) [IV] || SUSANA DE SOUSA DIAS [I]

* LUZ OBSCURA || SUSANA DE SOUSA DIAS *

DOCUMENTÁRIO DE 2017 QUE TEVE NA ORIGEM A FOTOGRAFIA DE CADASTRO DE ALBINA FERNANDES COM O FILHO [19/12/1961]

Correcção muito importante: o excerto desta fotografia de Luz Obscura corresponde ao rosto de Antónia Joaquina Monteiro, primeira companheira de Octávio Pato e mãe da Álvaro e Isabel Pato, tendo sido tirada pela PIDE em 18 de Julho de 1963. 


Feminae. Dicionário Contemporâneo, publicado pela CIG em 2013, inseriu a biografia, então possível, de Albina Fernandes (Pato) [05/01/1928-02/10/1970], procurando retirar do anonimato historiográfico uma mulher que optou por se empenhar na luta contra o fascismo, com elevado preço pessoal, político e de vida. 

Porque o Dicionário não é de venda pública, publica-se aqui, pela primeira vez, o texto completo.

«Albina Fernandes
Combatente da Resistência francesa e ativista comunista, a quem a PIDE infligiu violentas torturas psíquicas, nasceu em 5 de janeiro de 1928 em França, onde os pais, “que já eram comunistas” [M. E. Varela Gomes, p. 220], se encontravam emigrados e “estiveram em riscos de ser presos quando foi da invasão alemã” [ibidem]. Nesse país, iniciou muito jovem a militância na Juventude Comunista e, finda a II Guerra, veio para Portugal, onde aderiu ao Partido Comunista Português. Casou, em 1948, com Alcino de Sousa Ferreira [n. 28/12/1920] que, em outubro de 1949, passou a funcionário e com quem viveu clandestina até este ser preso, mais uma vez, em 12 de fevereiro de 1951. Dessa união, nasceu a filha Daniela de Sousa. Habitou “diversas casas clandestinas durante os onze anos seguintes” [Ana Barradas, As Clandestinas, p. 160], e foi detida em 15 de dezembro de 1961, no mesmo dia que o companheiro Octávio Pato [01/04/1925-19/02/1999], embora em locais diferentes. Sem ter a quem os confiar, levou os filhos Isabel (filha de Antónia Joaquina Monteiro) e Rui Pato (filha de Albina), de seis e dois anos, e manteve-os junto de si em Caxias: deitava-os no único divã e “descansava de joelhos no chão e com as mãos agarradas aos pulsos deles, para que não lhos tirassem” [A Forças Ignorada das Companheiras, p. 30], segundo descrição da própria a Maria Rodrigues Pato, a quem entregou os netos. Julgada em 17 de novembro de 1962, no mesmo dia de Octávio Pato, e condenada “na pena de prisão maior, na variável de 3 anos, na fixa de suspensão de direitos políticos durante quinze anos e no mínimo de Imposto de Justiça e na medida de segurança de internamento de seis meses a três anos prorrogável” [“Biografia Prisional”], acabou por permanecer seis anos e sete meses na Cadeia de Caxias. Em novembro de 1966, numerosos cidadãos assinaram uma petição a solicitar a sua libertação, atendendo a ter já cumprido a pena a que tinha sido condenada e ao debilitado estado de saúde em que se encontrava. Só lhe foi concedida a liberdade condicional em 9 de julho de 1968 e solta a 11, depois de devidamente fotografada. Suicidou-se em 2 de outubro de 1970, com apenas 42 anos de idade, situação denunciada pela Circular n.º 6, de 23 de outubro de 1970, da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. A mesma Comissão, em telegrama enviado ao Presidente do Conselho Marcelo Caetano e subscrito, entre outros, por Cecília Areosa Feio, Maria Eugénia Varela Gomes [n. 18/12/1925] e Sophia de Mello Breyner Andresen [1919-2004], responsabilizou diretamente o Governo pelo “trágico acontecimento consequência não só longa prisão sofrida condições desumanas como cruel expectativa quanto à situação seu marido Octávio Rodrigues Pato preso há nove anos cumprindo agora medidas de segurança” [Presos Políticos – Documentos 1970-1971, pp. 65-66]. Este, na intervenção no Tribunal Plenário de Lisboa em 1962, repudiou que no despacho de pronúncia se afirmasse “que eu e a minha companheira, a Sra. Albina Fernandes, arguida neste mesmo processo, vivíamos «como amantes»”, explicitando que “o nosso casamento não está oficializado unicamente em consequência direta da intensa perseguição policial que nos moviam. Oficializá-lo sempre foi e continua sendo um anseio de ambos, embora saibamos que tal facto em nada altera os nossos sentimentos, a nossa estima e o conceito que possuímos dos sólidos laços que estabelecemos. // Afirmar-se que vivíamos «como amantes» constitui não só uma infâmia do ponto de vista pessoal mas também uma tentativa de caluniar os comunistas e os princípios que os norteiam. // Essa infâmia fica mais clara se se disser que desde a minha prisão (há portanto onze meses) tenho insistentemente requerido junto dos ministros do Interior e  da Justiça (e meus familiares junto do próprio presidente da República) para obter a necessária autorização para oficializar o meu casamento. Nenhumas razões foram aduzidas para que tal autorização ainda não me tenha sido dada. [...] // Será para «justificar» a infâmia acima citada? E será também para «justificar» estar impedido de corresponder-me com minha mulher, de quem nada sei a não ser através dos nossos comuns familiares?” [“Intervenção realizada por Octávio Pato perante o tribunal fascista que o julgou, em novembro de 1962”, pp. 151-152]. Segundo notícia publicada no jornal Avante! de novembro de 1970, o seu funeral “incorporou cerca de 1.500 pessoas” [Avante!, n.º 422, p. 4, col. 3] e nele se gritaram várias palavras de ordem. Escassos meses após o 25 de Abril de 1974, Cecília Areosa Feio sublinhou, em depoimento a Gina de Freitas, a importância de recordar Albina Fernandes, que “foi uma combatente da Resistência francesa, foi uma militante ativa no Partido Comunista Português, lutou na clandestinidade, foi presa, sofreu seis anos de prisão, foi libertada, lutou corajosamente pela libertação do seu marido e contudo não conseguiu resistir às torturas que sofreu e que lhe causaram perturbações graves no sistema nervoso” [A Força Ignorada das Companheiras, pp. 188-189]; Sofia Ferreira [10/05/1922 – 22/04/2010] responsabilizou o conhecido médico da PIDE José Godinho Gama Barata pelo falecimento precoce, por não lhe ter prestado “nenhuma assistência, apesar de ter sido testemunha visual de inúmeras crises nervosas e psíquicas que ela teve na prisão” [testemunho a Rose Nery Nobre de Melo, p. 56]; e recentemente, Maria Eugénia Varela Gomes, sua companheira de cela, em conversa com Manuela Cruzeiro, referiu a forma impiedosa como os filhos pequenos e a mãe foram tratados na cadeia. Rose Nery insere a “Biografia Prisional” no livro Mulheres Portuguesas na Resistência. Também conhecida por Albina Pato ou Albina Fernandes Pato, usou o pseudónimo “Rosália”.» [J.E.].

Os pais de Albina Fernandes eram naturais do Porto e chamavam-se Agostinho Ferreira da Silva e Clara Fernandes

[João Esteves]
[alterado em 06/10/2022]

NOTA: Agradeço muito as correções de Rui Pato, filho de Albina Fernandes, contribuindo para uma biografia mais rigorosa.

1 comentário:

Rui Pato disse...

Boa noite,
Apenas umas correcções / acrescentos ao texto relativo à minha Mãe Albina Fernandes Pato

1 - Nasceu a 05 JAN de 1928 e não 1929

2 - Casou-se em 1948 com Alcino de Sousa Ferreira, de quem tiveram uma filha Daniela de Sousa,.....
3 - Suicidou-se em 02 OUT 1970 com 42 anos e não 41

Agradecido Rui Pato - ruifloriano@gmail.com